Anda vagamente em uma bela tarde de domingo, solta ao vento, procura uma arvore para descansar, no seu olhar refugia um sol vibrante.
Ela me entende e vive na intimidade, conhece as minhas entranhas de perto, desde um egoísmo sufocante, de uma paciência voluntária, do privado, das minhas fobias eternas, medos internos, todos são revelados bem de perto ao seu olho nu. Sabe que sou imperfeito, não sou um herói de cinema, ou de novela, sou real e não ficção. Aliás, ela sabe que também é imperfeita, pois nas suas nuances e vejo a sua beleza, sua maravilhosa inteligência, já no grau de intimidade vejo suas pequenas pitinhas pretas, a sua inveja pela prima, o seu medo pelo desconhecido, até o terror por baratas. Mas, é está imperfeição que completa o meu seu ser impuro e esgotado pelo tempo, pelas coisas, pessoas, e a própria vida. Assim ela é como uma pedra laminada que cobre uma lacuna no meu coração já tão danificado e rachado pela solidão melancólica, ela enche o meu espaço, cobre o meu tempo, me faz reviver o ser de cada dia.
Esta conhece muito bem como é a felicidade, seja em momento efêmero na mordida de lanche num domingo de tarde, ou em um sorriso que revela até mesmo seu dente metálico. Não importa ela sabe que o amor pode ser desde uma ilusão no vai-vem em sentimentos ordinários, e que só entende quem sabe, e sofre para entender um pouco do que se trata, ou até mesmo algo catártico ao elevar alma e fazer sucumbir de repente.
Nas tardes de sábado ela escolhe o programa e sabe bem, não é francesa, mas tem seu lado blasé, seu ar intelectualizado, me comove, um dia vemos Wood Allem, outro Almodóvar, ou então ficamos em casa vendo filmes antigos, seu diretor preferido é Bergman e Altman, mas curte um Godard. Cinéfila um pouco, é que na verdade ela transpira arte, soa como sendo uma pequena filha de Picasso, falando nisto ama artes plásticas, adora ficar olhado uma obra de arte, fica horas nela, surrealismo é a sua praia, e também lê de tarde uma Lispector, e adora um Saramago. Já ia me esquecendo também ama música nacional ouve Gil, Caetano e Marisa Monte, quase todo dia, e ainda encontra tempo para um teatro convencional em uma quarta à noite. Não faz o tipo careta, porém nem tanto libertina, não chega ser um completo “sexo, drogas e rock rol”, vai do tradicional ao moderno no mesmo tempo, na verdade é complexa esta namora, não é mais um tipo comum, mas é assim que vamos se entendendo.
Ela não é modelo de capa de revista, entretanto tem uma beleza que eleva o meu ego, sua mão soa suave no meu rosto, sua boca avermelhada, o seu nariz é ponte agudo, seu olhar sublime, hipnótico vejo nela uma escultura feita por um artista. Claro que este pode ser um destes momentos meus de pura “felicidade”, no qual eu só vejo suas belas qualidades, pois seu belo gosto de manga, às vezes pode ser até azedo.
É uma namora que dialoga, fala o que sente, não esconde nada, diz tudo, às vezes, chora e grita, mas sempre transforma pra melhor, fala francamente, é verdadeira, sem esta tal de falsidade. Não faz o tipo Madame Bovary, por que sabe que não existe a felicidade plena, que ainda estamos em busca, e faz do tédio um santo remédio.
As suas escolhas são centradas, mas ás vezes escorrega como uma linda palhaçada e me faz rir no seu banal, nas minúcias quando no mercado não sabe se escolhe leite integral ou desnatado, ou quando sempre esquece alguma coisa em casa, se não a chave do carro dentro do carro. Quando estamos á sois bebemos um bom vinho, e caímos na eterna nostalgia, brilhando nas lembranças, saudosistas do passado, sorrimos ao vento, sobramos o passado, vivemos o efêmero, descobrimos o futuro juntos.
Minha namorada imaginária também usa um decote vermelho, passa batom rosa e usa um perfume barato, coloca um salto alto, e ainda diz para mim “eu te amo meu amor”, como se ainda fosse à primeira vez...